CENTROS DE AVALIAÇÃO in ESCOLAProjeto de investigação piloto 'Centros de Avaliação in Escola' (CAiEs) |
O projeto de investigação piloto Centros de Avaliação in Escola (CaiEs) é apresentado no âmbito da iniciativa do XXI Governo Constitucional, “Projeto de Autonomia e Flexibilidade Curricular”. O contexto é o de anteriores investigações realizadas no Instituto de Educação da Universidade de Londres e na Universidade do Algarve (Pereira 2006, 2017), no âmbito dos fundamentos de uma Educação centrada no Bem-estar, onde radica a Pedagogia para o Bem-estar (PBe). O projeto centra-se no funcionamento das escolas, e parte da perceção de um problema e da sua causa, para oferecer uma estratégia de solução para esse problema, tentando remover ou mitigar, a causa. O problema consiste na perceção de que as escolas, em geral, são correntemente palco de disfunções largamente referidas na literatura, como muito graves: indisciplina, bullying” e diversos tipos de violência que pode escalar, excecionalmente, até tiroteios sangrentos. Tais perturbações, creem-se potenciar problemas igualmente largamente sinalizados, como: o abandono escolar precoce; o insucesso escolar; a discriminação dos mais desfavorecidos, que acabam por ser ainda os mais atingidos e, em geral, importantes desconfortos diversos, por parte de alunos, professores e pais. A causa que se assume aqui, de tais comportamentos disfuncionais, em geral, é que, inconscientemente, na ânsia de ajudar os alunos a adquirirem o indispensável conhecimento instrumental para o seu desempenho e sucesso nesta “sociedade do conhecimento”, famílias e escolas, tradicionalmente, adotam práticas intensas, mas subtis, permeadas pelo que aqui se designa por Formas de Desordem (FDs), com proeminência para uma certa comparação interpessoal intensa e o medo, que geram sentimentos de superioridade-inferioridade. Estes não são sentimentos de superioridade-inferioridade, moralmente e emocionalmente inócuos. É normal um qualquer aluno ter superioridade relativa, por exemplo quanto à competência na matemática, face aos outros. Tendo tal vantagem, pode manter a humanidade do contacto, ajudando até os seus pares. Logo o problema não é a superioridade relativa a funcionalidades, nas ciências, artes, desporto, etc. O problema crucial é quando a complexa, porque frustra qualquer descrição completa, interação dos dispositivos escolares e sociais, geram e atribuem a alguns alunos uma “superioridade absoluta” e não relativa, fazendo a comunidade e, por vezes, eles mesmos, crerem-nos melhores e mais merecedores seres humanos que os outros, e fazendo os outros, a maioria, sentirem sentimentos negativamente simétricos, crendo-se menos valiosos e incompetentes, erodindo-lhes a autoconfiança e autoestima. É conhecida, por exemplo, a resposta dada pela escola Finlandesa aos problemas complexos que aí geram stress prejudicial às aprendizagens e que passou por uma solução contrária à aqui proposta ao concentrar as avaliações sumativas no professor que ensina, eliminando a avaliação externa nacional. Mas, na Finlândia, dentro do seu contexto de diversas atuações particulares à sua tradição e contexto (Robert 2010), houve ainda a consciência do que foi apontado por Pasi Sahlberg (Chartered Institute of Educational Assessment and Sahlberg 2014), professor e conselheiro do governo para a política educativa, do problema fulcral dos aspetos negativos ligados aos relacionamentos permeados por intensa “competição tóxica” , tal como este declarou ao “Chartered Institute of Educational Assessors” do Reino Unido. A solução aqui proposta, adequada a sociedades onde tradicionalmente os exames são proeminentes, são os CAiEs. Os CAiEs são conceptualizados como espaços dentro da escola, tendo professores a ele consignados em exclusividade ou que ensinando, intervêm nas avaliações de alunos que não frequentam as suas aulas, que usam predominantemente TICs para gerar testes/exames, facilmente, a partir de questões em bases de dados, e que com generosidade de tempo para redução de medo/stress, podem fazer avaliações escritas em determinado módulo e em qualquer altura que o aluno as solicite. No entanto, adicionando a estas avaliações escritas, deverá o aluno ter uma avaliação oral (conversa compreensiva-relacional) com o professor, para se assegurar que domina os grandes conceitos de enquadramento do conhecimento. É criada, informaticamente, a Área do Aluno, onde através de acesso reservado, se garante a confidencialidade de resultados e demais relatórios. Os objetivos do projeto, a curto prazo, são simples e consistem em testar a implementação de um CAiE em duas escolas secundárias, apenas para uma disciplina e uma turma experimental (TE) do 10º ano. As atividades principais consistem na implementação e funcionamento dos CAiEs durante um ano escolar, e na realização de inquéritos a alunos, e entrevistas semiestruturadas a professores e outros atores da comunidade escolar. A metodologia do projeto pode ser a do estudo de caso, em duas escolas secundárias. Os resultados esperados, serão: a consistência do funcionamento dos CAiEs e a perceção destes como fator de importante impacto para a mobilização no sentido de um novo paradigma estruturante do funcionamento geral das escolas. O potencial de benefícios, a longo prazo, será : promover um ensino por módulos; tornar difuso o ambiente de comparação, reduzindo o stress; terminar com “testes de ocasião única”; terminar com a “turma-tribo” ao longo do ano escolar; terminar com o stress de limitações de tempo em exames; facilitar o florescimento do potencial diferenciado dos alunos, ao permitir-lhes progressões mais rápidas ou lentas; mudar o paradigma estruturante de funcionamento da escolas, com um sistema de créditos, em que até a figura da “passagem de ano” é difusa ou completamente dispensável, potenciando-se uma melhor e mais flexível aprendizagem, porque personalizada, baixando-se o stress.
Rui Penha Pereira ruipenhapereira@gmail.com
Roberto Lam rlam@ualg.pt
Pedro Cardoso pcardoso@ualg.pt
José Bastos jbastos@ualg.pt